"Aquilo Era um Lobisomem": O Encontro Sobrenatural no Rio Pardo – Um Relato da Quaresma na Década de 70

Relato enviado em 23/06/2025

Local: Interior de São Paulo, região de Ribeirão Preto

Década de ocorrência: Anos 1970

No silêncio cortante das madrugadas do interior paulista, quando as florestas ainda eram vastas e pouco tocadas pela mão urbana, nasceu mais um capítulo da tradição oral que alimenta o folclore sombrio do Brasil profundo. O relato encontrado por nós do blog Brasil Assombrado em junho de 2025, em um grupo do Facebook, traz à tona um dos encontros mais arrepiantes com o que muitos ainda chamam de lobisomem — figura central das lendas que se intensificam especialmente durante a quaresma.

Um Rancho, o Rio Pardo e a Tradição da Caça

Nos anos 1970, a juventude de muitas cidades do interior encontrava na vida ao ar livre uma mistura de sobrevivência e lazer. O pai de nosso relator foi um desses jovens. Criado em uma fazenda nos arredores de Ribeirão Preto, ele costumava sair com amigos para caçadas e acampamentos, especialmente nas matas próximas ao Rio Pardo, onde a paisagem bucólica escondia, talvez, mais do que apenas animais silvestres.

Durante uma dessas incursões, em plena quaresma — época liturgicamente associada, segundo o folclore, ao fortalecimento de forças sobrenaturais e ao surgimento de criaturas como o lobisomem —, ele e seus amigos se alojaram em um ranchinho à beira do rio.

Enquanto organizavam suas mochilas e armavam o descanso, a noite caiu, e com ela veio a tradição da cachaça e do cigarro de palha. A cena era típica: a juventude reunida, risadas abafadas pelo escuro do mato, sons de grilos e das águas correndo. Tudo estava em paz — até não estar mais.

A Chegada da "Coisa" na Noite

O silêncio veio como um mau presságio. De repente, todos pararam de falar ao mesmo tempo, como se uma intuição ancestral lhes tivesse apertado o peito. Em segundos, começaram a ouvir o que só pode ser descrito como uma carreira desenfreada pela mata: galhos quebrando, folhas sendo esmagadas, algo grande — muito grande — vindo direto em direção ao rancho.

Ninguém esperou para ver. Instintivamente, todos correram para dentro, trancando a porta com uma barra de madeira maciça. O que quer que fosse bateu com força, rugindo e arranhando a madeira, como um animal tentando forçar passagem — mas o pior ainda estava por vir.

O pai do remetente, homem do campo, criado entre bichos, reconheceria o som de uma onça, mas ele foi enfático: aquilo não era uma onça. O que ouviram foi um rosnado misturado com vocalizações humanas, gemidos roucos, algo que parecia tentar articular palavras — como se fosse uma criatura à beira da razão, presa entre dois mundos.

A coisa ficou ali por horas, fungando, rosnando, batendo. Até que, aparentemente cansada ou frustrada, voltou para a mata em uma corrida tão brutal quanto a primeira. Ninguém dormiu naquela noite. Ao amanhecer, os jovens abandonaram o rancho com os nervos estraçalhados — um medo que, segundo o relato, “dava dó”.

O Lobisomem da Quaresma: Tradição e Medo no Interior

A conclusão do pai foi simples e direta: só podia ser um lobisomem.

E essa crença não está isolada. No folclore brasileiro, especialmente no interior e na cultura sertaneja, o lobisomem é tido como mais ativo durante a quaresma, principalmente às sextas-feiras. Trata-se de uma figura que, segundo a tradição, é fruto de uma maldição familiar ou pecado mortal — o sétimo filho homem sem batismo, por exemplo, seria condenado a se transformar em fera nas noites de lua cheia.

A descrição do encontro bate com inúmeros outros relatos colhidos ao longo dos anos: a movimentação animal, a força bruta, os sons híbridos entre humano e fera, a tentativa de acesso à casa, e a desistência súbita antes do amanhecer.

Entre a Memória e o Sobrenatural

O relato, apesar de recheado de elementos típicos do horror rural, carrega um tom de veracidade difícil de ignorar. São memórias não romantizadas, contadas com simplicidade por quem viveu de perto uma noite de puro terror no mato — sem câmeras, sem celulares, apenas com os sentidos atentos e a adrenalina que o corpo nunca esquece.

Talvez nunca saibamos o que, de fato, visitou aquele rancho às margens do Rio Pardo naquela noite escura de quaresma. Mas para os que estavam lá, não há dúvida: o que bateu àquela porta era algo que não era desse mundo.

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